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Brasileira Mariangela Hungria Conquista o “Nobel da Agricultura”

A cientista brasileira Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, foi laureada com o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), reconhecido como o “Nobel” da agricultura**. O anúncio ocorreu em 14 de maio de 2025, na sede da Fundação World Food Prize, nos Estados Unidos. Concedido anualmente, o prêmio reconhece personalidades que contribuem para aprimorar a qualidade e a disponibilidade de alimentos no mundo. Mariangela Hungria se dedica a tecnologias em microbiologia do solo.

Com mais de 40 anos dedicados a pesquisas, Mariangela é reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento de **tecnologias inovadoras em microbiologia do solo. A Fundação World Food Prize destacou que suas descobertas ajudaram o Brasil a se tornar uma potência agrícola global.

A cientista tem focado no desenvolvimento de insumos biológicos, com ênfase na substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos que possuem propriedades benéficas, como fixação biológica de nitrogênio, síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas. Mariangela foi uma das primeiras defensoras da fixação biológica de nitrogênio (FBN), um processo onde culturas formam uma associação benéfica mútua com bactérias do solo que fornecem nitrogênio, um nutriente essencial para o crescimento das plantas. Ela se inspirou em Johanna Döbereiner, também reconhecida por suas contribuições à agricultura.

A luta de Mariangela Hungria tem sido por substituir o uso de produtos químicos por produtos biológicos na agricultura. O objetivo é aumentar a produtividade com o menor uso possível de produtos químicos, e isso tem sido alcançado com mais produtos biológicos. Ao longo de sua carreira, ela desenvolveu dezenas de tratamentos biológicos.

Estima-se que suas tecnologias tenham sido usadas em mais de 40 milhões de hectares no Brasil. A apenas a tecnologia de inoculação na soja com bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo, economizou US$ 25 bilhões em 2024 ao dispensar o uso de adubos especiais. De forma mais ampla, suas tecnologias economizam aos agricultores até US$ 25 bilhões por ano em custos de insumos. Além da economia financeira, suas inovações também têm um grande impacto ambiental, evitando a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalentes por ano na atmosfera. Hoje, a técnica de inoculação na soja é usada em 85% da área cultivada no Brasil.

Além da soja, Mariangela Hungria coordena pesquisas sobre outras culturas, como feijão, trigo e milho. Em 2021, a equipe da pesquisadora foi responsável pela redução de 25% na fertilização nitrogenada no milho, diminuindo custos e impactos ambientais.

O presidente do Comitê de Seleção do prêmio, Gebisa Ejeta, justificou a escolha da brasileira como resultado das pesquisas em “fixação biológica que transformaram a sustentabilidade da agricultura na América do Sul”. Ele afirmou que seu trabalho científico e visão no avanço da produção agrícola sustentável lhe renderam reconhecimento global.

Mariangela Hungria expressou que ainda não conseguiu acreditar no reconhecimento mundial de seu trabalho, pautado na produção de alimentos de forma sustentável e na agricultura regenerativa. Para ela, a láurea é também um reconhecimento à ciência feita no Brasil e um estímulo a outras pesquisadoras. Ela mencionou que muitas pessoas questionaram sua capacidade ao longo da carreira, mas ela acreditou e perseverou, esperando que sua conquista inspire outras a seguir suas paixões na ciência. Ela também destacou que o papel das mulheres na agricultura, da agricultura à ciência, merece mais reconhecimento.

Esta é a terceira vez que o Prêmio Mundial de Alimentação é concedido a brasileiros, e Mariangela Hungria é a primeira mulher brasileira a receber o prêmio. Anteriormente, os agrônomos Edson Lobato e Alysson Paulinelli dividiram o prêmio em 2006 pelo trabalho no desenvolvimento da agricultura no cerrado, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o prêmio em 2011 por sua atuação no combate à fome como chefe de governo. O prêmio foi idealizado por Norman E. Borlaug, vencedor do Prêmio Nobel da Paz e considerado o “pai” da Revolução Verde.

A solenidade de entrega do prêmio a Mariangela Hungria ocorrerá em 23 de outubro, em Des Moines, nos Estados Unidos. Com o reconhecimento, ela receberá US$ 500 mil e uma escultura projetada por Saul Bass. A governadora do estado de Iowa, Kim Reynolds, reforçou o exemplo de Mariangela para outras mulheres, destacando-a como cientista pioneira e mãe, servindo como exemplo inspirador para mulheres pesquisadoras.

Mariangela Hungria é engenheira agrônoma graduada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), mestre em solos e nutrição de plantas pela Esalq/USP, doutora em Ciência do Solo pela UFRRJ e possui pós-doutorado em três universidades nos EUA e Espanha. Ela iniciou sua carreira na Embrapa em 1982 e desde 1991 atua na Embrapa Soja. Em 2020, foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo pela Universidade de Stanford. Ela também é professora na Universidade Estadual do Paraná e na Universidade Federal de Tecnologia do Estado do Paraná.

Fontes: EBC, Jornal da USP, Academia Brasileira de Ciências

Wagner Marcelo

Atua profissionalmente como arquiteto de inovação, gerando e fomentando ecossistemas empreendedores e tecnológicos, tendo como missão o desenvolvimento de negócios disruptivos.

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