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É possível detectar precocemente o câncer de mama sem o exame de mamografia?

A revolução da medicina no século XX em parte é resultante da revolução da medicina diagnóstica. Esta contou com grande ajuda dos exames de imagem decorrentes da descoberta do raio X, ultrassom, ressonância magnética e radionuclídeos.

Em particular, a radiologia e a ultrassonografia – mais baratos – passaram por diversas inovações e aperfeiçoamentos. Os equipamentos se tornaram mais sofisticados, com mais qualidade de imagens e, proporcionalmente, mais precisão no diagnóstico. São os mais utilizados no diagnóstico precoce do câncer de mama.

Desde a década de 1960 a incidência de câncer de mama só tem aumentado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70, registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência. Porém, países que adotaram o rastreamento de toda a população com mamografia anual têm obtido uma redução na taxa de mortalidade por este câncer. Para o ano de 2018 estima-se que, cerca de 1,5 milhão de casos novos surgirão no mundo, aproximadamente 59.700 no Brasil.

O diagnóstico precoce ainda é a melhor forma de combate a este tipo de câncer (e para a maioria deles!).

A mamografia – imagem obtida por raios x aplicados na mama comprimida
– é um método que apresenta riscos à saúde já que essa radiação é danosa ao tecido humano por ser ionizante. Mas ainda assim é muito utilizada porque a ultrassonografia (não ionizante) é a incapaz de detectar microcalcificações, bem como apresentar um alto número de resultados falsos positivos (lesões suspeitas na ultrassonografia levando à necessidade da biópsia de várias lesões que na realidade são benignas). As vantagens da USM se encontram na capacidade de diferenciar lesões sólidas (nódulos) de lesões císticas (cistos mamários), complementar os casos que geram dúvidas na mamografia e permitir melhor avaliação dos gânglios axilares.

É uma pena porque, além do problema relacionado à incidência de radiação ionizante, a mamografia apresenta um sério inconveniente: a compressão da mama é necessária para se obter uma boa qualidade de imagem, porém causa muito desconforto quando efetuada. Para garantir uma compressão adequada da mama, a força de compressão deve estar em uma faixa de 11 a 18 kg!

Para garantir uma compressão adequada da mama, a força de compressão deve estar em uma faixa de 11 a 18 kg!

Por isso há um grande esforço por parte de físicos médicos e engenheiros no sentido de desenvolver novos métodos de diagnóstico por imagem que sejam tão eficientes quanto, tão barato ou mais barato ainda, mas que sejam menos danosos e dolorosos que a mamografia.

Uma dessas novidades vem do Japão. Um grupo liderado pela Universidade de Kobe desenvolveu um novo método de inspeção de imagem para detectar câncer de mama com alta precisão usando um transmissor que envia sinais de rádio com baixa intensidade colocado sobre o peito. A energia das ondas de rádio envolvidas não passa de 0,1% das ondas transmitidas pelos telefones celulares. O método fornece imagens tridimensionais claras sem infligir dor aos pacientes, ao contrário das mamografias que são usadas atualmente para exames de câncer de mama, de acordo com o grupo. O grupo pretende iniciar ensaios clínicos neste ano de 2019, em uma tentativa de difundir a nova técnica em exames.

O professor Kenjiro Kimura, da Universidade de Kobe, especialista em metrologia, e outros pesquisadores analisaram o fato de que os seios são feitos principalmente de gordura e as ondas de rádio conseguem se propagar na gordura.

O grupo estabeleceu o método de criar instantaneamente uma imagem estereoscópica de tumores cancerígenos transmitindo ondas de rádio a um seio e analisando as ondas que foram desviadas por tumores ali presentes.

O grupo analisou a precisão do novo método, testando cerca de 200 pessoas, incluindo pacientes com câncer com tecido mamário denso. Os resultados coincidiram com mais de 90 por cento dos resultados de outros tipos de exames, como mamografias, exames ultra-sonográficos e biópsias. O grupo também foi capaz de detectar o câncer em estágio inicial, que é difícil de detectar usando métodos padrão.

“Espero comercializar este método através de equipamentos médicos por volta de 2021, obtendo a cooperação de grandes fabricantes”, disse Kimura.

Mitsuhiro Tozaki, chefe do departamento de radiologia do Centro de Mama do Hospital Sagara em Kagoshima, disse: “As mulheres com tecido mamário denso representam cerca de 80 por cento de todas as mulheres, por isso é vital desenvolver um método de exame para substituir mamografias. O método pode ser aplicado a outros usos médicos, como examinar a eficácia dos tratamentos com medicamentos.

Fonte: DoctorNDTV 

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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