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A Internet está mudando (literalmente) o nosso cérebro

Os motores de busca, como o Google, e as bases de dados na Internet transformaram-se numa espécie de “memória externa” do nosso cérebro.

Algumas das atividades humanas mais básicas estão sendo realizadas com a ajuda do mundo virtual. Por esse motivo, não é surpreendente que a multiplicidade de regiões cerebrais envolvidas na coordenação dessas tarefas se adapte a este modo de vida moderno.

Ainda assim, uma recente investigação sobre o impacto da Internet no funcionamento do cérebro, ainda na infância, compilou uma revisão de tudo o que sabemos até agora sobre de que forma a vida digital está a alterar os nossos cérebros.

O estudo, publicado recentemente na World Psychiatry, analisa os resultados de um conjunto de outros estudos sobre o cérebro, com o objetivo de avaliar algumas das principais hipóteses sobre como é que a Internet os pode afetar. Apesar de os resultados não deverem ser considerados conclusivos, a análise sugere que os estilos de vida online estão alterando as regiões associadas à atenção, memória e habilidades sociais.

IFL Science avança um exemplo prático: as pessoas que verificam o celular várias vezes ao dia, na esperança de terem recebido uma mensagem no WhatsApp, por exemplo, viram a sua massa cinzenta ser reduzida em certas áreas do córtex pré-frontal, regiões essas associadas à manutenção da atenção face às distrações. Como consequência, estes indivíduos apresentaram um desempenho menos satisfatório em tarefas relacionadas com a atenção.

Além disso, os investigadores chegaram à conclusão que o enorme impacto dos mecanismos de busca online podem levar-nos a confiar demais na Internet como uma fonte de informação, em detrimento da nossa própria capacidade de memória interna.

Para apoiar esta hipótese, os autores do artigo científico referem um estudo que descobriu que as pessoas tendem a exibir uma lembrança mais fraca das informações encontradas online do que numa enciclopédia. Imagens cerebrais mostraram que este efeito está relacionado com a ativação reduzida do fluxo ventral do cérebro – um sistema de recuperação da memória-chave – ao recolher informações na Internet.

No fundo, esta descoberta aumenta a desconfiança dos cientistas de que a aprendizagem online pode não conseguir ativar suficientemente as regiões-chave do cérebro necessárias para o armazenamento da memória a longo prazo.

As redes sociais também não passaram despercebidas. Um outro estudo concluiu, por exemplo, que o número de amigos no Facebook determina o volume de massa cinzenta no córtex entorrinal direito, que foi anteriormente associado à capacidade de associar nomes e rostos.

Este efeito é, provavelmente, causado pelo fato de as redes sociais incentivarem os indivíduos a manter um grande número de conexões fracas, exigindo por isso uma maior capacidade de associar nomes a rostos. Antes do advento tecnológico, as pessoas tendiam a ter relacionamentos mais profundos e coesos, com uma menor rede de indivíduos e, portanto, requeriam adaptações diferentes.

A informação não é detalhada nem conclusiva o suficiente para fazer uma declaração definitiva sobre se a Internet é boa ou má para os nossos cérebros. Ainda assim, está claro que, quanto mais tempo passamos online, mais alterações a nossa função cognitiva sofre.

Fonte: ZAP

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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