Lente de contato tecnológica pode ser o seu próximo gadget
As grandes empresas querem estar nos seus olhos.
Além do uso médico, outras companhias estão começando a vislumbrar outros usos possíveis para lentes de contato. Grande concorrente do Google no mundo dos smartphones, é óbvio que a Apple não ia ficar de fora dessa.
Em 2016, de acordo com o site especializado AppleInsider, a fornecedora de equipamentos médicos EPGL anunciou uma parceria com a empresa de Cupertino para desenvolver uma lente de contato com capacidades de realidade aumentada. Sim, estamos falando de uma lente que projeta imagens no olho de quem está usando. Maluco, não?
Sony e Samsung também estão de olho, com o perdão do trocadilho, nas possibilidades dessa área. As duas empresas já registraram patentes de produtos do tipo, e ambas têm uma coisa em comum: lentes com câmeras. A patente da Samsung, requisitada em 2014 junto a autoridades de propriedade intelectual sul-coreanas, veio a público dois anos depois. Os documentos descrevem uma lente com capacidade para projetar imagens diretamente nos olhos do usuário e uma câmera embutida, que pode ser controlada por piscadelas ou com a ajuda de um smartphone.
Já os documentos registrados pela Sony em departamentos norte-americanos revelam a ideia de uma lente capaz de registrar vídeo, incluindo até mesmo um algoritmo para cortar os frames pretos causados pelo movimento involuntário de piscar os olhos. As piscadelas intencionais seriam diferenciadas por sua duração, mais longa do que 0,4 segundos, e poderiam servir para dar comandos para o equipamento. O produto da companhia japonesa usaria sensores piezoelétricos para obter energia para os chips aproveitando o movimento do globo ocular.
Privacidade
Mas será que essa loucura de sair por aí com uma câmera nos olhos, filmando e fotografando tudo sem ninguém perceber, não pode passar dos limites? Eduardo Magrani, coordenador da área de direito do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), acha que sim.
“Não é só porque existe a capacidade técnica de fazer uma coisa que a gente deve fazer.”
Eduardo Magrani, coordenador da área de direito do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio)
Para coibir abusos, o especialista defende que haja regulamentações de proteção a dados pessoais e a à privacidade de usuários, especialmente em relação a dados sensíveis, como as informações médicas que poderiam ser coletadas pelas lentes medidoras de glicemia. “No Brasil, não há uma legislação desse tipo.” Magrani também ressalta a importância de um debate sobre as questões éticas envolvidas, e defende que o design dos próprios produtos traga recursos para coibir abusos e violações — um algoritmo de captura de vídeo que borre automaticamente imagens sensíveis ou que exponham a intimidade do usuário, por exemplo.
“Nós temos hoje uma relação cada vez mais simbiótica com a tecnologia, a ponto de não sabermos mais se nós a dominamos ou se ela nos domina. É preciso um olhar crítico antes de adotar as novidades”, diz o pesquisador.
Lentes de ficção científica
Outra ideia bastante promissora para o segmento vem da Suíça, e parece saída diretamente de um filme futurista. Pesquisadores da terra dos relógios desenvolveram uma lente com pequenos telescópios, que podem ampliar objetos em até 2,8 vezes. É isso mesmo: um zoom óptico no seu olho.
Isso pode ajudar muita gente que não enxerga bem, como idosos, mas a ideia original era outra. O trabalho foi financiado pela Darpa (Defense Advanced Research Projects Agency, ou Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa), o braço de pesquisa do Pentágono, que pretendia usar a invenção em soldados, para que eles pudessem ver mais longe.
Já os pesquisadores da Universidade do Wisconsin–Madison projetaram uma lente de contato com foco automático e sensores de imagem para conseguir enxergar em condições ruins de iluminação, o que pode fazer muita diferença para pacientes com presbiopia. A equipe do professor Hongrui Jiang foi buscar sua inspiração na natureza, mais precisamente no peixe elefante. Originária da África ocidental e central, essa espécie tem olhos aprimorados para enxergar em águas lamacentas e turvas. As retinas do peixe têm estruturas parecidas com copos, com paredes reflexivas, o que ajuda a captar luz mesmo em condições ruins. Essa ideia foi replicada nas lentes desenvolvidas pelos cientistas, que que contam com protuberâncias de vidro semelhantes a dedos, revestidas internamente com alumínio.
A lente do professor Jiang ainda não foi testada em olhos humanos, apenas em um modelo mecânico de plástico. O cientista estima que ainda vai levar de cinco a dez anos para uma tecnologia desse tipo chegar ao mercado. Em uma década, nossos olhos poderão estar diante de um produto que mais parece ficção científica. Com tudo isso fica claro uma coisa: apesar da incursão aparentemente tortuosa do Google no segmento, ainda há interesse de empresas e pesquisadores em lentes futuristas. E aí, você tá pronto para deixar tanta tecnologia tão perto dos olhos?
Fonte: Uol Notícias