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A “Chernobyl flutuante” chegou finalmente à sua base na Rússia

A central nuclear flutuante Akadémik Lomonósov, a única deste tipo em todo o mundo, chegou, no fim de semana passado, ao porto de Pevek, na região oriental de Chukotka, no extremo norte da Rússia, onde entrará em serviço, convertendo-se na central nuclear mais setentrional do planeta.

Para chegar ao seu destino, a apelidada “Chernobyl flutuante” exigiu a ajuda de rebocadores ao longo de uma rota marítima de mais de 5.000 quilómetros. Na sua nova localização, será um fator-chave para o desenvolvimento da infraestrutura numa região tão remota como esta.

“As condições em Chukotka são equivalentes a um teste de qualidade: se a tecnologia funcionar aqui, se passar no teste de condições adversas do Ártico, isso significa que funcionará em qualquer lugar do mundo”, disse Roman Kopin, governador da região, de acordo com o jornal russo The Moscow Times.

Espera-se que tenham grande demanda, não apenas aqui na região do Ártico, mas também noutros lugares onde não faz sentido criar grandes sistemas de energia”, disse Viacheslav Ruksha, vice-diretor da agência atómica russa Rosatom.

“As populações precisam de um alto nível de infraestruturas”, por isso “a tecnologia de construção da planta numa região desenvolvida e o seu subsequente transporte para um local onde é necessário são muito justificáveis”.

Os autores do projeto afirmam que a mega-estrutura flutuante – com mais de 140 metros de comprimento e 30 metros de largura – possui uma proteção tão rígida que, mesmo no caso de uma eventual colisão com outro navio, não afundará. Os autores também garantem que a sua estrutura será invulnerável ao eventual flagelo de desastres naturais como os tsunamis.

A central está equipada com dois reatores KLT-40S que têm uma capacidade combinada de 70 megawatts, o suficiente para abastecer 100 mil pessoas. Embora a população de Pevek mal tenha cerca de seis mil habitantes, as autoridades explicam que a capacidade será necessária para o desenvolvimento de infraestrutura em toda a região, rica em recursos naturais – especialmente ouro – e conhecida por sua indústria de mineração. Por esse motivo, as empresas precisam desse aumento de energia.

Uma das características marcantes da central reside no facto de que o combustível usado pode ser armazenado dentro da própria estrutura flutuante. Por outro lado, os reatores só precisam ser recarregados após um ciclo de 12 anos de operação. A central estará totalmente operacional dentro de vários meses, após ser conectada à rede elétrica, quando substituirá as centrais locais obsoletas.

O Akademik Lomonósov é o chefe da série deste tipo de central, mas a Rússia planeia criar uma grande frota nuclear com projetos aprimorados.

Batizada Akademik Lomonosov, a central deixou o estaleiro de São Petersburgo em 2018 e iniciou uma longa jornada, que terminou no Ártico. O nome da central é uma homenagem ao cientista russo do século XVIII Mikhail Lomonosov. O plano previa que a central iria atravessar o Mar Báltico, para a seguir contornar a Noruega até chegar ao porto russo de Murmansk. Nesta última paragem, os reactores nucleares da Akademik Lomonosov seriam abastecidos com combustível.

A estrutura seria então rebocada mais de 5 mil quilómetros até à costa ártica de Chukotka, próximo do Alasca. Em 2019, esperava-se, de acordo com o plano, que a central abastecesse uma cidade portuária, plataformas de petróleo e uma central de dessalinização.

A construção da central nuclear flutuante levantou preocupações a diversas organizações ambientalistas, que desde logo criticaram a sua construção. A Greenpeace chamou-lhe “Chernobyl flutuante”, em referência ao desastre nuclear de 1986 que ocorreu na central de Chernobyl, na Ucrânia, então controlada pelos soviéticos.

Classificado como o pior acidente nuclear da história, o episódio causou uma evacuação em massa e deixou inabitáveis vastas faixas da Ucrânia e da vizinha Bielorrússia. A Greenpeace usou também a expressão “Titanic nuclear” para criticar o projeto.

Nos últimos anos, o aquecimento global resultou na rápida fusão do gelo do Ártico, que está a abrir novas rotas de navegação a norte da Rússia. O país está a aproveitar o fenómeno para explorar os ricos depósitos de petróleo e gás da Sibéria. O Kremlin  procura também fortalecer a sua presença militar na região.

Segundo a Greenpeace, a Rosatom pretende abrir uma verdadeira linha de montagem destas centrais flutuantes e vendê-las para outros países, tendo consultado potenciais compradores em África e na América do Sul.

Fonte: ZAP

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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