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Cientistas demonstram comunicação direta cérebro a cérebro em humanos

Uma nova pesquisa da Universidade de Washington e da Universidade Carnegie Mellon (EUA) desenvolveu uma tecnologia que substitui a linguagem como forma de comunicação, ligando diretamente os cérebros de três pessoas.

A atividade elétrica do cérebro de duas delas serviu como sinal para uma terceira completar uma tarefa, sem que elas tivessem contato umas com as outras.

“Internet de cérebros”

Esse não é o primeiro estudo que testa a comunicação direta entre cérebros.

Um dos pesquisadores líderes desse campo, Miguel Nicolelis, por exemplo, conduziu um experimento que ligou o cérebro de vários ratos criando uma rede ou um “computador orgânico” complexo. Os roedores tinham atividade cerebral sincronizada e se saíam melhor em tarefas do que animais individuais.

Será que o mesmo pode ser feito com seres humanos, ou seja, uma rede de cérebros conectados que funcionam como um supercomputador biológico?

O estudo

No novo estudo, três seres humanos em salas separadas colaboraram uns com os outros em jogo do tipo Tetris, no qual deveriam orientar os blocos para encaixá-los. Dois indivíduos agiam como “enviadores” de sinais (estes podiam ver o jogo), e um como “recebedor” (este só tinha que escolher a orientação).

Os “enviadores” estavam conectados à eletroencefalogramas (EEGs). Para passar a mensagem ao “recebedor” sobre a orientação do bloco, focavam em um flash de luz a determinada frequência. As diferenças nas frequências causavam diferentes respostas cerebrais.

Um pulso magnético era enviado ao “recebedor” usando estimulação magnética transcraniana (EMT). Dependendo do sinal, ele virava ou não o bloco. A partir desse momento, todos viam o resultado do jogo, o que deixava os “enviadores” saberem se o “recebedor” fez o movimento certo, medindo assim a eficácia da comunicação. O trio podia em seguida podia tentar melhorar sua performance.

Para aumentar o desafio, os pesquisadores às vezes adicionavam alguma “interferência” ao sinal enviado pelos “enviadores”. Nesse caso, os “recebedores” ficavam confusos com as informações ambíguas. Rapidamente, no entanto, eles aprendiam a identificar e seguir as instruções mais confiáveis.

Ao todo, cinco grupos de indivíduos foram testados na rede chamada de “BrainNet,” e tiveram mais de 80% de eficácia em completar a tarefa.

Avanços

Esse é o primeiro estudo no qual os cérebros de vários indivíduos foram conectados diretamente de uma forma não invasiva. A quantidade de pessoas que podem ser “ligadas cerebralmente” dessa forma é ilimitada.

Apesar disso, a informação sendo compartilhada era muito simples: uma instrução do tipo “fazer ou não fazer”, ou seja, “sim ou não”.

Ao mesmo tempo, outras interfaces cérebro-cérebro mais invasivas estão sendo desenvolvidas, como uma patrocinada pelo bilionário do mundo tecnológico Elon Musk, contendo um implante com 3.000 eletrodos, e outra financiada pela DARPA (a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA), uma tecnologia capaz de acionar um milhão de células neurais simultaneamente.

Questões éticas

Apesar deste estudo ser menos invasivo que outros como o da DARPA, também levanta preocupantes questões éticas.

Por exemplo, poderia uma interface ou rede cerebral deste tipo ser usada para coagir uma pessoa a fazer algo que não queira, invadindo o seu senso de agência? Poderia ser usada para extrair informações confidenciais, invadindo a privacidade do indivíduo? De forma geral, poderia atrapalhar o senso pessoal (senso do “eu”) de um ser humano?

Uma das nuances da linguagem humana é que aquilo que não é dito é frequentemente mais importante do que aquilo que é dito. Se tais redes se tornarem comuns e permitirem toda uma “abertura” descontrolada de pensamentos e trocas de informações, talvez os benefícios se mostrem menores do que os prejuízos: é o nosso senso de autonomia individual que pode estar jogo.

Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Nature. [ScientificAmerican]

Fonte: Hypescience

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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