Será que algum dia vamos viver no espaço? Ou, quem sabe, teremos que fazer uma viagem para outro sistema solar para encontrar um novo lar? Embora essas possibilidades pareçam mais coisa de cinema do que realidade, é e sempre será um sonho da humanidade viajar pelo espaço sideral e explorar os confins do universo.
Mas antes de sonhar com as viagens espaciais, talvez seja importante saber o que acontece com nosso corpo lá fora. As mudanças podem ser severas e difíceis de se adaptar. Pode acreditar, uma viagem no espaço não é nenhum cruzeiro de luxo.
Síndrome da Adaptação Espacial
em a gravidade da Terra puxando o corpo humano para baixo, é possível sofrer de um mal conhecido como síndrome da adaptação espacial. É como um enjoo, mas acompanhado de dores de cabeça, desorientação, desconforto intenso e, possivelmente, vômitos e vertigem. Cerca de metade de todas as pessoas que vivem no espaço têm a síndrome. A causa não é necessariamente a falta de gravidade, mas sim a mudança súbita na força gravitacional. Uma vez que a adaptação acontece, as coisas tendem a se normalizar. A boa notícia é que ela só dura alguns dias. Isso é especialmente bom porque vomitar no espaço não é a melhor das ideias.
Quando você entra em uma roupa espacial, você tem que usar um equipamento de drenagem transdérmico anti-náusea. Isso porque vomitar na roupa espacial não seria apenas nojento: poderia ser fatal. Imagine estar dentro de um aquário com um tubo a vácuo acoplado como entrada de ar. Se você vomita lá dentro, teria problemas de visão e respiração, e tudo fica ainda pior considerando que você está no espaço, sem gravidade.
O cheiro
O último sentido que pensamos que será estimulado no espaço é o olfato. Mas você já parou para se perguntar que cheiro tem o espaço? A descrição dos astronautas varia entre um cheiro de carne assada, metal e pólvora. “A melhor descrição que posso encontrar é ‘metálico’”, define o astronauta Don Petite.
Somos nós mesmos e, mais especificamente, a nossa atmosfera, que dão ao espaço esse cheiro especial. De acordo com os pesquisadores, o aroma que os astronautas inalam inalam enquanto movem sua massa do espaço para a estação é o resultado de “vibrações de alta energia em partículas trazidas para dentro, que se misturam com o ar”.
A NASA chegou mesmo a contratar o químico Steven Pierce para recriar o odor do espaço para fins de treinamento.
Você vai perder suas unhas
O fenômeno é chamado de delaminação das unhas. Em um estudo recente, 22 astronautas relataram suas unhas perdidas. Fazer as unhas, portanto, é uma tarefa a menos caso você vá para o espaço.
As luvas volumosas do traje espacial cortam a circulação e a pressão na ponta dos dedos faz com que você perca as unhas. Alguns astronautas chegam a arrancar as próprias unhas antes de ir para o espaço para evitar essa alternativa.
Fim dos roncos
Você vai parar de roncar. Devido à falta de gravidade no seu sistema respiratório, há uma redução dramática nos problemas respiratórios relacionados ao sono, fazendo com que você seja bem menos irritante para seus colegas viajantes.
Com pouca gravidade para afetar sua língua, você não experimentará nenhum bloqueio que normalmente provoca o ronco na Terra. Esse é um dos poucos efeitos positivos.
Problemas de Visão
Após muito tempo no espaço, a visão começa a desfocar. A parte de trás dos globos oculares se achatam um pouco e as retinas também mudam um pouco. Geralmente esses efeitos não duram, mas para algumas pessoas, pode levar anos para que os olhos voltem ao normal. Dos 300 astronautas que já estiveram no espaço, cerca de 23% experimentaram problemas oculares em voos de curto prazo e cerca de 49% em voos mais longos. Se nos mudarmos para novos planetas, cerca de metade das pessoas terão problemas de visão.
Como você não tem peso no espaço, os fluidos vão para a parte superior do corpo e o aumento da pressão na cabeça apenas esmaga ligeiramente os nervos ópticos. É comum também enxergar fenômenos visuais de raios cósmicos, o que causa a sensação de flashes espontâneos de luz.
Efeitos nos músculos
Você passa a maior parte do tempo flutuando no espaço. Por causa de todos os equipamentos pesados usados pelos astronautas, a parte inferior do corpo costuma sofrer muita perda óssea e os músculos ficam enfraquecidos, às vezes até mesmo atrofiados. Além disso, o coração tem o potencial de diminuir de tamanho porque não precisa mais trabalhar tanto. Mais um dos efeitos colaterais de um ambiente de microgravidade.
Nós ficamos mais altos
Esse pode parecer um efeito positivo, mas não dura muito tempo. Após uma viagem espacial, as vértebras se “espalham”, fazendo com que a espinha se alongue. Porém, uma vez que você está sujeito à gravidade novamente, a espinha encolhe de volta ao seu tamanho normal. O máximo que crescemos é cerca de três% da nossa altura normal, e leva apenas alguns meses para voltarmos ao normal.
Sem proteção contra o vácuo
Esses efeitos listados até aqui são todos sob a proteção dos trajes e das naves espaciais. Sem eles, nós não duramos muito tempo. Sem proteção contra o vácuo do espaço, leva aproximadamente 15 segundos para usarmos todo o oxigênio em nosso sangue. Podemos sobreviver cerca de dois minutos antes de sofrer danos permanentes. Isso se não prendermos a respiração. Se fazemos isso, o ar que permanece em nossos pulmões faz com que eles se expandam, os rompe e chega até nosso sistema circulatório. Se você consegue se livrar do problema e voltar para onde há oxigênio, a primeira coisa que você quer fazer é exalar. É contra-intuitivo, mas não é como ir para debaixo d’água. Falando em água, após cerca de dez segundos, a água do seu corpo começa a se vaporizar devido à falta de pressão. Outros efeitos secundários incluem a fermentação da saliva na língua, queimaduras solares e maus causados pela descompressão. Apesar do espaço ser muito frio, você não congelaria imediatamente. Além disso, se você morrer no espaço, você não se decompõe no vácuo. Depois de um tempo, você congelará ou mumificará, dependendo da temperatura.
Radiação espacial
Esse é um dos maiores problema a ser solucionado para viagens espaciais de longa duração. Na Estação Espacial Internacional, as pessoas estão expostas a dez vezes mais radiação do que na Terra. A nossa atmosfera nos protege da radiação cósmica. Sem isso, corremos o risco de ter nosso sistema nervoso danificado, resultando em alterações na função cognitiva, redução na função motora e mudanças comportamentais. A radiação espacial também pode causar uma doença com sintomas como náuseas, vômitos, anorexia e fadiga. Não há nenhuma maneira de se proteger completamente da radiação do espaço enquanto você está lá fora. A exposição inevitável pode levar ao câncer e outras doenças.
Euforia Espacial
Os astronautas relataram experiências de abertura da mente e mudança de vida depois de viagens ao espaço. “Fiquei impressionado com a certeza de que o que eu presenciei era parte da universalidade de Deus. Eu apenas engasguei, vieram as lágrimas. Foi a experiência mais profunda da minha vida”, relata o astronauta Charlie Duke. Ao ver a Terra a partir de sua nave espacial, Edgar Mitchell relatou sentir uma incrível sensação de tranquilidade e euforia e afirma ter entrado em um estado alterado de consciência em que ele entendeu o significado do universo.
“Foi muito bonito para acontecer por acidente. Tem que haver alguém maior do que você, e maior que eu, e quero dizer isso em um sentido espiritual, não um sentido religioso”, afirma Gene Cerman.
Rusty Schweikhart sentiu como se ele fosse “parte de todos e tudo o que o rodeia”. “Esta pequena Terra linda – o planeta que nos mantém vivos, o que nos dá tudo o que temos, a comida que comemos, a água que bebemos, o ar que respiramos, a beleza da natureza. E tudo está tão perfeitamente equilibrado e organizado para que possamos viver. Este pequeno e lindo planeta que atravessa o espaço”, disse após voltar para a Terra.
Parece que, apesar de todos os efeitos colaterais, viagens espaciais nos tornam pessoas melhores.
Fonte: Hypescience