Ensino

Devolvam as Musas aos Museus

Museus científicos deveriam recrutar o público para enfrentar os maiores desafios do planeta

Quando eu estava na faculdade estudando ecologia nos anos 80, todos nós compartilháveis a convicção de transformar o mundo em um lugar melhor. Ah, o poder do otimismo e da energia da juventude! Nós tínhamos esperanças de deter a degradação das florestas tropicais, reverter o declínio dos recifes de coral, salvar as espécies ameaçadas e garantir um ar puro para todos.

Trinta anos e milhares de alunos mais tarde, o planeta já perdeu mais de 50% de suas principais florestas, o dióxido de carbono atmosférico agora passa de 400 ppm e 70% dos recifes de coral foram destruídos. Os melhores esforços de nossas mentes mais brilhantes e dedicadas não conseguiram deter – e muito menos reverter – a degradação ambiental global.

Claramente, mesmo nessa era de incríveis conquistas tecnológicas, apenas a inovação científica não é suficiente para mudar nosso curso atual. Existe uma necessidade crítica de alterar a maneira com que a ciência serve a sociedade – e o melhor lugar para começar é com nossas gerações mais jovens.

Não é segredo que a eficácia da educação científica formal nos Estados Unidos vem diminuindo há algum tempo. Em média, americanos gastam menos de 5% de suas vidas na sala de aula. Estatísticas indicam que nossa educação científica K-12 fica atrás de muitos outros países, e apesar de novas tecnologias incríveis e de um fluxo constante de alunos brilhantes, a capacidade científica da América está vacilando.

Mas existe uma luz em meio a toda essa escuridão: a educação científica informal, onde alunos aprendem fora da sala de aula, está se provando cada vez mais eficiente.

Museus estão na vanguarda desse movimento. Em 2012, museus receberam mais visitas de americanos que eventos esportivos. Para manter os visitantes interessados, essas instituições agora fornecem jogos interativos, programas científicos extra-curriculares e expedições virtuais que conectam a sala de aula à pesquisa científica. As crianças não apenas permanecem conectadas, como também aprendem conceitos científicos e compreendem o processo científico.

Mas museus ainda precisam fazer muito mais. Muitas pessoas ainda acreditam que museus científicos são locais empoeirados, cheios de animais mortos em jarros e artefatos de explorações ancestrais. O que seria preciso para que museus científicos dos Estados Unidos revertessem esse estereótipo, para competir com shopping centers e cinemas? O que seria preciso para que museus científicos se tornassem mais relevantes?

Confrontar diretamente alguns dos problemas mais críticos do planeta, como a mudança climática e a perda da biodiversidade, pode ser um bom começo. Além de dedicar uma fração de seus orçamentos e espaço de exibições para engajar o público com os verdadeiros fatos sobre o aumento do nível do mar e da acidificação oceânica.

Imagine se todo museu científico pusesse jovens em contato direto com cientistas experientes, para que eles pudessem ver que os últimos não são nerds com jalecos brancos, mas seres humanos normais ajudando a responder perguntas fascinantes, além de resolver alguns dos problemas mais urgentes que a humanidade já enfrentou.

E se museus científicos engajassem suas comunidades locais para monitorar espécies invasivas usando aplicativos móveis e avaliassem a biodiversidade de árvores nativas (em relação às exóticas) para que mais pessoas pudessem aprender sobre, e apreciar, o que vive em seu próprio quintal?

E se todos os museus criassem planos de ação para ensinar pessoas como ajudar a reduzir emissões de dióxido de carbono? Ao se tornarem espaços para envolver a comunidade e ao usar os ganchos da tecnologia, da exploração e das soluções de sustentabilidade para inspirar a educação científica, museus têm tanto poder para mudar o mundo quanto qualquer inovação científica.

Desenvolver um modelo de financiamento para essas abordagens inovadoras parece um primeiro passo necessário. No mundo dos negócios, corporações de benefícios (B Corps, em inglês) incluem um elemento de operações sustentáveis como valor adicional para acionistas. Em vez de oferecerem ações com valor unicamente monetário as B Corps, como a Seventh Generation, a Patagonia e a Bert’s Bees, também se dedicam a criar impactos ambientais e sociais positivos.

E se todos os museus científicos seguissem esse modelo (talvez mudando de nome para “B-Museus”), em que um componente significativo do portifólio de cada museu refletisse ideias relevantes de sustentabilidade e iniciativas de pesquisa?

Além de exibições atemporais sobre biodiversidade, adaptação ou sobre a aerodinâmica do voo, “museus de benefícios” dedicariam uma porção de seu espaço a problemas e soluções de sustentabilidade: o declínio das borboletas monarca devido à alteração de habitat, a acidificação oceânica e a perda de recifes de coral ou os desafios e benefícios de tecnologias energéticas renováveis.

É claro que nem tudo tem que ser, ou deveria ser, horror e desgraça. Talvez a mensagem mais importante que os museus de benefício podem transmitir é que nem tudo está perdido: cada um de nós tem um papel ativo a desempenhar na descoberta de soluções para os problemas que enfrentamos.

 

Fonte: Scientific American Brasil 

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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