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Supertúnel abaixo da marginal é mais um passo para despoluição do rio Tietê

Todos os dias, 18 metros abaixo das pistas da marginal Tietê, operários escavam a terra para a construção de um túnel. O projeto avança 1 metro a cada turno de 12 horas de trabalho. Até o início de 2020, a obra deve entregar a São Paulo um supertúnel de 7,5 km por onde deve passar o esgoto de 2 milhões de pessoas da capital.

Essa é uma das mais importantes etapas do Projeto Tietê, conjunto de obras que é tocada pela Sabesp (companhia paulista de água e saneamento) com o objetivo de tornar o rio Tietê de novo limpo. O supertúnel deve receber os dejetos de uma grande área da cidade, que abrange desde o jardim zoológico, na zona sul de São Paulo, até o centro.

Grande parte dos dejetos dessa região é hoje purificada na estação de tratamento de esgoto de Barueri, na Grande SP, que é a maior do Brasil, com capacidade para 16 mil litros por segundo (volume equivalente a 26% de toda a água que é consumida na região metropolitana de SP).

Com o novo túnel, o esgoto continuará indo para Barueri. O que mudará é o caminho.

Operários trabalham na construção de túnel da Sabesp, sob a pista da Marginal Tietê, em São Paulo Lalo de Almeida/Folhapress

 

Quando o supertúnel sob a marginal estiver pronto, irá receber a maior parte desses resíduos, aliviando assim o já saturado emissário sob a Marques de São Vicente.

O supertúnel da marginal Tietê tem 2,65 metros largura por 3,4 metros de altura. Em alguns pontos chega a ser maior, com 3,4 metros de largura por 4,25 metros de altura. O túnel da Marquês de São Vicente tem 2,80 metros de largura por 1,80 metro de altura.

Além do túnel sob à marginal, a Sabesp está construindo ainda outra tubulação de esgoto, um pouco menor, ao longo do rio Tamanduateí. Fecham o pacote de obras pequenas interligações de canos subterrâneos na região da rua 25 de março e do vale do Anhangabaú, no centro. O conjunto de intervenções está orçado em R$ 358 milhões e tem recursos federais.

O contrato foi firmado em 2013, mas teve de ser suspenso durante a crise hídrica hídrica que castigou São Paulo de 2014 a 2016. A Sabesp teve de focar todos os seus recursos na garantia da obtenção de água. Por isso, a obra só pôde ser retomada em 2016.

Essa nova rede de tubulações terá capacidade de levar uma quantidade maior de esgoto para a estação de tratamento de Barueri. Para receber esse volume de esgoto, a estação de tratamento também teve sua capacidade de tratamento ampliada em 60%, desde o início de 2017.

Segundo dados da própria Sabesp, 13% do esgoto gerado na Grande São Paulo ainda não é coletado. E 39% ainda não é tratado, o que polui os córregos e rios da cidade, incluindo o rio Tietê.

As novas estruturas poderão receber parte desse esgoto que hoje é gerado mas não é tratado. Os túneis também devem preparar a cidade para o seu crescimento num horizonte de 30 a 40 anos, segundo cálculos da Sabesp.

“Todo o sistema de esgoto nesta região está saturado e já não está suportando o volume de esgoto dessa região, que tem um movimento de verticalização”, diz Andrea Ferreira, gerente da Sabesp e coordenadora do projeto Tietê.

As obras fazem parte da principal bandeira do setor ambiental do governo paulista, o Projeto Tietê, que já consumiu US$ 2,8 bilhões desde 1992, sem considerar a inflação. Nos primeiros anos do projeto, a Sabesp e o governo do estado chegou a dizer que até 1998 o Tietê já teria peixes e que, em 2005, estaria completamente limpo.

O otimismo daquela época não se confirmou. Segundo o SOS Mata Atlântica, o rio ainda está morto em 122 km (contra 530 na década de 90) dos 1.100 km de extensão. Malu Ribeiro, da ONG ambientalista, analisa que as primeiras metas de se limpar o Tietê eram irreais e ajudaram a criar uma sensação de descrédito de que o rio seria despoluído.

A Sabesp estima que a fase atual de despoluição do Tietê irá até 2024. “Ao término desta fase, o paulistano já não terá um rio tão fétido quanto hoje e terá uma condição paisagística melhor”, avalia Malu.
“O compromisso de seguir tocando o projeto deve ser assumido pelo próximo governador, pois se trata de uma questão de estado”.

Para que o rio fique efetivamente limpo, será necessário que a Sabesp chegue à universalização da coleta e tratamento de esgoto.

Será preciso que todas as cidades que margeiam o Tietê também façam o mesmo trabalho e que exista um forte combate ao lixo jogado nas ruas, que vão parar na calha do rio e que também não cresça a moradia irregular às margens dos córregos da cidade.

Fonte: Folha Cotidiano

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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