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Seres humanos podem detectar mudanças magnéticas, como os animais?

Um interessante estudo feito nos EUA revela que variações do campo magnético podem ser percebidas por algumas pessoas, a exemplo do que acontece com alguns animais que se orientam pelo magnetismo da Terra.

O estudo, publicado na versão online da revista Neuro, revelou que mudanças no campo magnético ao redor de um indivíduo podem diminuir ou até mesmo suprimir a geração das ondas Alfa produzidas pelo cérebro durante os momentos de relaxamento.

Essa é a primeira vez que um experimento desse tipo revela alguma relação entre o magnetismo e o funcionamento do cérebro humano.


Ondas Alfa
Durante o estado de relaxamento, uma grande quantidade de ondas do tipo alfa são produzidas pelo cérebro humano e são facilmente detectadas por instrumentos sensíveis. A frequência das ondas Alfa varia entre 8 e 13 Hertz.

Há muito tempo que os pesquisadores sabem que alguns seres vivos podem perceber o campo magnético da Terra e até mesmo usa-lo para orientação. Casos típicos são morcegos, abelhas, tartarugas, pássaros e baleias. Cães também utilizam essa capacidade e conseguem localizar imãs enterrados.


Esquema da câmara isolada usada pelos pesquisadores do Caltech para registrar as ondas alfa sob influência dos campos magnéticos.

Essa capacidade sensorial é chamada pelos especialistas de magnetorecepção e de acordo com Connie Wang, estudante de pós-graduação ligada ao Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), também pode fazer parte do rol de sentidos do ser humano.


Experimento de Magnetorecepção
Para tentar descobrir se os seres humanos também possuem habilidades de magnetorecepção, os pesquisadores construíram uma câmara isolada e protegida das emissões de radiofrequência.

Durante uma hora os participantes sentaram-se em total escuridão e foram submetidos a campos magnéticos que mudavam de orientação.

À medida que os campos magnéticos se deslocavam silenciosamente em torno da câmara, as ondas cerebrais dos participantes eram medidas usando eletrodos posicionados em 64 locais em suas cabeças.

Durante o experimento, 34 participantes tiveram a intensidade das ondas Alfa enfraquecidas em até 60% em resposta aos campos magnéticos em mutação. O experimento foi repetido diversas vezes e os registros mostraram que o efeito era reprodutível.

Segundo Joseph Kirschvink e Shin Shimojo, coautores do estudo, esta é a primeira evidência concreta que de um novo sentido humano, a magnetorecepção.

Efeito Inconsciente
De acordo com Kirschvink e Shimojo, os participantes que experimentaram as mudanças não tiveram qualquer consciência da detecção, o que parece ser um efeito completamente inconsciente, nunca chegando ao nível de uma interrupção consciente.

Essa não percepção do efeito levou os pesquisadores a sugerir que pode ser algo vestigial, ainda resquício de uma antiga habilidade de navegar usando pistas magnéticas locais.

“Talvez não seja tão surpreendente que alguns humanos possam manter alguns componentes neurais funcionais, ainda mais se considerarmos que nossos ancestrais não muito distantes eram caçadores nômades”, diz Kirschvink.


Nossa opinião
Naturalmente, nem todos os humanos têm essa capacidade e também não há evidências que alguns poucos consigam usa-la de alguma maneira, a exemplo de alguns animais.


Entretanto, o estudo revela uma interação desconhecida entre o cérebro e o campo magnético, que pode abrir um novo campo de investigação relativa às capacidades cerebrais perdidas dos seres humanos.

Fonte: Apollo 11


Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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