Velocidade dos ventos em todo o mundo está aumentando
Em todo o planeta, as velocidades dos ventos estão aumentando, o que é uma boa notícia para a produção de energia renovável — pelo menos por enquanto.
Um estudo publicado ontem na revista Nature Climate Change mostra que os ventos em grande parte da América do Norte, da Europa e da Ásia têm ficado mais rápidos desde 2010.
Em menos de uma década, a velocidade média global do vento aumentou de cerca de 11,26 km/h para cerca de 11,90 km/h. Para uma turbina eólica média, isso equivale a um aumento de 17% na energia eólica potencial. O fenômeno pode explicar cerca de metade do aumento da capacidade de energia eólica dos EUA desde 2010, dizem os pesquisadores.
O estudo desse fenômeno pode ajudar a resolver um debate científico que intriga pesquisadores há anos. Antes que a velocidade global do vento começasse a aumentar em 2010, ela vinha diminuindo por várias décadas, começando ainda nos anos 1970. Os cientistas lançaram uma variedade de teorias sobre esse “global stilling” (“desaceleração global” numa tradução literal), como o fenômeno veio a ser conhecido. Uma das ideias mais populares sugeria que o aumento do desenvolvimento urbano e outras mudanças no uso da terra haviam alterado a superfície da Terra, tornando-a mais áspera e aumentando o arrasto que age no fluxo de ar em todo o mundo.
Mas, se fosse esse o caso, as velocidades do vento deveriam continuar diminuindo — e não acelerando, como agora. A recente reversão sugere que algum outro fator deve estar desempenhando um papel maior.
O novo estudo aponta para grandes ciclos climáticos naturais como o provável responsável.
Usando modelos para investigar os fatores que influenciam o comportamento dos ventos globais, os pesquisadores descobriram que grandes padrões climáticos — que afetam temperaturas em certas partes do mundo — têm uma grande influência na velocidade dos ventos. Diferenças de temperatura entre regiões vizinhas, ou entre o oceano e áreas terrestres próximas, podem afetar o fluxo de ar.
Os pesquisadores descobriram que, por exemplo, a velocidade do vento tende a ser mais lenta em grande parte do Hemisfério Norte quando as temperaturas são mais altas em partes do Atlântico Tropical e no Pacífico Ocidental, além da Groenlândia.
As temperaturas em toda a Terra estão aumentando constantemente como resultado das mudanças climáticas causadas pelo homem. Mas, dentro desse padrão de aquecimento maior e de longo prazo, as temperaturas nessas regiões também tendem a alternar naturalmente entre períodos mais quentes e mais frios, às vezes com duração de décadas.
Os autores do novo estudo sugerem que uma mudança entre certos ciclos climáticos naturais pode ter ajudado a ativar a mudança de ventos mais lentos para ventos mais rápidos.
Se eles estiverem certos, a tendência de aceleração pode continuar por mais uma década ou até mais, até que ocorra a próxima grande mudança. Isso pode ser uma vantagem para a indústria de energia eólica em um futuro próximo. Se o padrão atual continuar, os autores sugerem que a geração global média de energia desse pode aumentar em até 37% até 2024.
O estudo também levanta alguns pontos importantes sobre o planejamento de energia eólica a longo prazo. Se os ciclos climáticos naturais de fato puderem causar mudanças tão significativas na velocidade global do vento, o setor deve planejar possíveis altos e baixos com antecedência.
E, se as flutuações climáticas realmente causam um efeito tão grande, há também a questão de como as mudanças climáticas futuras podem agir.
Embora algumas teorias sejam mais controversas do que outras, estudos recentes estabeleceram conexões entre as mudanças climáticas e o comportamento da corrente de jato do Hemisfério Norte, os ventos do oeste da Antártida e outros padrões de circulação de ar no mundo. E alguns estudos de modelagem sugerem que o aquecimento contínuo poderia causar mudanças substanciais nas regiões com maior energia eólica em potencial no mundo — como, por exemplo, uma diminuição no Hemisfério Norte e alguns ganhos potenciais no Sul global.
Determinar onde essas mudanças podem ocorrer é fundamental para fins de planejamento de longo prazo, como saber onde investir em novos parques eólicos e o que esperar dos existentes. E, se o novo estudo estiver correto, os ciclos climáticos naturais e o impacto contínuo do aquecimento global devem ser levados em consideração.
Chelsea Harvey
Publicado originalmente em E&E News .
Fonte: SCIAM Brasil