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A Lua pode ter sido capaz de sustentar a vida.

Quando falamos em condições favoráveis à existência de vida na Terra falamos em água líquida, uma atmosfera capaz de manter a água estável na superfície, um campo magnético capaz de fornecer proteção à radiação solar e cósmica e compostos orgânicos. Segundo os autores do estudo, algumas condições-chave  poderiam ter existido na Lua.

“Se a água líquida e uma atmosfera significativa estiveram presentes na Lua durante longos períodos de tempo, achamos possível que a superfície lunar tenha sido habitável, pelo menos temporariamente”, explica Dirk Schulze-Makuch, astrobiólogo da Washington State University e coautor do estudo, publicado na Astrobiology.

No entanto, astronautas e robôs nunca encontraram nenhuma prova de vida na Lua e, mesmo que o material orgânico tivesse existido no satélite do nosso planeta, não sabemos se iriam restar vestígios.

A ideia de que a Lua já poderia ter sido habitável é baseada em uma série de descobertas, feitas principalmente na última década, que mostram que a Lua não é tão seca quanto pensávamos. Há bilhões de anos, poderia ter havido grandes quantidades de água líquida na superfície lunar.

Há cerca de 4,5 bilhões de anos, uma Proto-Terra e outro corpo planetário colidiram e foram vaporizados, segundo um artigo publicado este ano.

Segundo essa teoria, a Lua se formou dentro da Terra, quando o nosso planeta ainda não tinha se formado completamente e não passava de uma nuvem fervente e giratória de rocha vaporizada, chamada sinestia.

Assim, os cientistas defendem que esses gases poderiam ter sido suficientes para criar uma atmosfera. Esse período de tempo foi o primeiro momento no qual se verificaram na Lua as condições necessárias para sustentar a vida.

A segunda vez aconteceu durante um período de intensa atividade vulcânica, cerca de 500 milhões de anos depois. Os cientistas sugerem que essa atividade poderia ter criado uma atmosfera ainda mais densa, com mais água na superfície lunar.

Dessa forma, e de acordo com os cálculos citados no artigo científico, poderia ter havido água líquida durante 70 milhões de anos, especialmente se houvesse um campo magnético protegendo a Lua dos ventos solares.

Durante esses dois períodos, a vida já poderia existir na Terra, isto porque os cientistas ainda não sabem como o material orgânico apareceu pela primeira vez no nosso planeta. Além disso, os cientistas também não sabem o quão comum são as condições que sustentam a existência de vida em todo o Universo.

As cianobactérias são as evidências mais antigas de vida na Terra. De alguma forma, certas moléculas precursoras se fundiram para formar materiais orgânicos, que evoluíram eventualmente para essas cianobactérias. Não sabemos quanto tempo esse processo levou, mas alguns cientistas estimam que teria demorado 10 milhões de anos.

Por essa lógica, defendem os cientistas, houve tempo suficiente para algo semelhante acontecer na Lua. Se o material orgânico estivesse previamente lá, a vida poderia ter emergido durante esses dois períodos de tempo.

No entanto, mesmo que não tenha existido material orgânico na Lua, esses dois períodos foram certamente intensos a nível de atividade meteórica. Esses meteoritos poderiam ter trazido micro-organismos que sobreviveram.

No entanto, há muitas dúvidas que pairam no ar. Assim, os cientistas mantêm a esperança de que as futuras missões à Lua forneçam evidências sobre esses períodos de atividade vulcânica através de amostras das camadas da Lua.

Ciberia, 25/07/2018

Cristiane Tavolaro

Sou física, professora e pesquisadora do departamento de física da PUC-SP. Trabalho com Ensino de Física, atuando principalmente em ensino de física moderna, ótica física, acústica e novas tecnologias para o ensino de física. Sou membro fundadora do GoPEF - Grupo de Pesquisa em Ensino de Física da PUC-SP e co-autora do livro paradidático Física Moderna Experimental, editado pela Manole.

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